É incrível como as almas não se encontram. Estão todas em
busca, de algo, de ternura, de completude. Saem loucas, desvairadas pela
madrugada, e não obtêm a graça do encontro. Lindo seria o encontro. Lindo seria
o reconhecimento. Mas pra cada dia de encontro, há 364 de desencontro. 364
incompatibilidades para 1 compatibilidade. Fé cega. É isso que rege a vontade
de encontrar lugar de pertencimento, de alocação, de acomodação. Demora
aconchegar, chamegar, repousar.
Não quero repousar num
lugar só. Encontro repouso em vários portos. Meus portos são os que me oferecem
prazer, frisson e intensidade. Mesmo que por momentos curtos, por dias, por
semanas. Não me importo de dividir minha ternura e depositá-la em mil baús
diferentes.
As partidas existem, as quebras, as rupturas. Mas também existem os
recomeços, os encantamentos, o maravilhoso novo. O novo é maravilhoso. A dor
pelo velho é apego, melancolia que deve ser sentida e transmutada em alegria de
se ter vivido amor. Amor que se transformou. A partida também é alívio. Alívio de
livrar-se do velho, do que não encaixa mais, não cabe mais no corpo e na alma.
Satisfação de ter roupas novas pra vestir, cores novas pra colorir!